segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Ato público pelo fim da violência contra a mulher

Fotos por Thiago Leão
O blog Dicoturno esteve presente no Ato Público Pelo Fim da Violência Contra a Mulher, realizado na última sexta, dia 13, ao som de batucadas e brados contra o machismo. A primeira parada da comitiva foi na Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, onde foram entregues uma nota do Coletivo de Mulheres de Aracaju sobre os recentes casos de violência e um manifesto pelo fim da violência contra a Mulher, assinado pelo Coletivo e pelas demais entidades que construíram o ato: Movimento Mulheres em Luta (MML) e Assembléia Nacional de Estudantes - Livre (ANEL).

O procedimento foi repetido na Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAVG), com o adicional de uma reunião entre o grupo e a delegada Érika Farias, uma excelente oportunidade para não expressar as pautas do movimento feminista como para conhecer um pouco do trabalho e das dificuldades enfrentadas na luta contra a violência contra a mulher.

De lá o cortejo segue para a Assembléia Legislativa de Sergipe (ALESE), para oficializar um pedido de audiência pública com a Comissão de Direitos Humanos da ALESE. A luta contra a opressão de gênero segue firme, protagonizada pelas mulheres e com apoio dos homens que reconhecem a importância fundamental da igualdade, começando pelo fim da violência contra a mulher. Reproduzimos aqui nota dessas protagonistas na luta contra uma das mais vis formas de opressão. E viva à resistência!


Nota do Coletivo de Mulheres de Aracaju sobre os recentes casos de violência contra as mulheres em Sergipe

O machismo mata todos os dias com a conivência do Estado!

No último mês de agosto e início de setembro nos deparamos com o assustador aumento do número de casos de violência contra as mulheres e feminicídios, no Estado de Sergipe. Essa é uma realidade cruel e machista a qual todas nós mulheres estamos expostas. A qualquer hora, em qualquer lugar, diariamente, do interior à capital sergipana, os casos são chocantes.

No seu local de trabalho, a cozinha do restaurante da Universidade Federal de Sergipe, por volta das 10h30 da manhã, Danielle Bispo, 27 anos, foi assassinada a facadas por seu ex-companheiro, no dia 19 de agosto. O motivo? Machismo.

No mesmo dia em que Danielle foi assassinada, 19 de agosto, uma mulher de 28 anos que não quis ser identificada, começou a ser brutalmente torturada pelo seu ex-namorado, por volta das 18h, na sua própria casa, sob as palavras “Se você não é minha, não será de ninguém”. A sessão de tortura durou 12 horas. Ela pediu para morrer, mas ele, o ex-namorado, disse: “mato nada, quero que você sofra”. O motivo? Machismo.

Uma mulher, de 32 anos, foi estuprada em uma escola. Ela estava em um bar à noite, sozinha, quando chegou um homem, sentou-se ao seu lado e puxou papo. Ficou tarde, o estabelecimento fechou, eles resolveram ir para outro lugar. No caminho, encontraram com moradores de rua; “preocupado” com a segurança da mulher, o homem sugeriu entrar em uma escola onde disse trabalhar, ela acreditou e foi. Lá, ele a estuprou, mas gentilmente pediu para que ela ficasse calma. O motivo? Machismo.

No dia 26 de agosto, um jovem de 21 anos descontente com o fim do namoro foi de bicicleta até a casa da ex-namorada, por volta das 21 horas, chamou-a ao portão para conversar, ela foi. Ele fingiu que ia embora, sacou a arma e disparou três tiros contra a adolescente de 17 anos. Ela foi levada ao hospital e sobreviveu. O motivo? Machismo.

Em Poço Verde, interior do estado, o corpo de Lindicelma dos Santos, 22 anos, carinhosamente conhecida como Nina, foi encontrado carbonizado em uma estrada do povoado Cabeça Vermelha, no dia 1º de setembro. Segundo a polícia, Nina foi estuprada e, em seguida, queimada viva. O fogo foi direcionado para a sua vagina e sua cabeça, características de crime passional para a polícia. O motivo? Machismo.

O motivo desses crimes não é a passionalidade, é o machismo. É a ideia machista da relação sustentada pelo direito de posse, que historicamente os homens têm sobre os corpos e as vidas das mulheres. É a inércia do ESTADO que tem mostrado sua incapacidade de combater, punir e reeducar numa perspectiva emancipadora.

As políticas públicas e sociais dos últimos anos não conseguem abarcar nada para além do desenvolvimentismo capitalista. A própria Lei Maria da Penha tem seu limite classista claro, na medida em que sua aplicação tem servido para aumentar o número de homens negros e pobres encarcerados. O corte de verbas para as áreas sociais, o que inclui as políticas públicas específicas para as mulheres, só reforça a falta do comprometimento do governo federal. Em Sergipe, o déficit de delegacias especializadas e com atendimento 24 horas faz toda a diferença. A falta de incentivo para uma integração entre capital e interior dificulta as relações e o acúmulo de debates e de formação contra a violência machista.

Precisamos subverter essa ordem opressora, mas ainda falta muito a ser feito. Muito a ser discutido. Muito a ser avançado. O que não podemos é descansar no erro, nos conformar no silêncio.





Com informações do Jornal da Cidade, edições 20 e 27 de agosto de 2013.
Com informações do Jornal do Dia, edição 27 de agosto de 2013.


Coletivo de Mulheres de Aracaju, 4 de setembro de 2013.

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